“Do ponto de vista da indústria e dos mercados, Marrocos tem uma localização invejável”
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Agropecuária do Chile (INIA), Bruno Defilippi, é talvez a referência mais importante em pós-colheita de frutas a nível internacional e foi um dos palestrantes de destaque no Seminário Internacional de Mirtilo que isso foi feito 13 e 14 de setembro em Agadir.
- Que pontos importantes você destacaria do Seminário, da turnê anterior e o que pôde observar sobre a indústria marroquina?
- Primeiramente gostaria de destacar o sucesso desta segunda versão do Seminário Internacional de Blueberry em Marrocos. Considerando que o país sofreu um trágico terremoto poucos dias antes do início do evento. Nenhum problema menor para a organização e assistência dos expositores e participantes.
Os dois primeiros dias foram focados num tour técnico visitando empresas próximas à cidade de Agadir. Em geral são produções em vasos e todas em casa de vegetação. Do ponto de vista da indústria e dos mercados, a sua localização é sem dúvida invejável para fornecer 95% da sua produção ao mercado europeu, localizado a apenas 3 a 5 dias de transporte entre a área de produção e o consumidor. Muito semelhante à situação que o México enfrenta em relação ao mercado dos Estados Unidos.
Do ponto de vista produtivo, existem desafios cruciais em termos de gestão da temperatura ambiente em períodos críticos de desenvolvimento, quantidade e qualidade da água para irrigação e mão-de-obra, entre outros.
Assim como em outros países produtores, praticamente todos os programas genéticos estão presentes, pois a maior procura dos produtores é por variedades precoces, com datas produtivas e com frutos de grande calibre. Outros aspectos, ligados à qualidade ou estado da fruta, tornam-se secundários dada a proximidade dos mercados de destino.
- Que aspectos precisam ser melhorados?
- Apesar de ter iniciado a produção de mirtilo há mais de uma década, e actualmente ultrapassar os 4000 hectares, creio que as principais lacunas se observam na baixa disponibilidade de desenvolvimento local ao nível das Universidades e Institutos, onde se desenvolve investigação e conhecimento para responder às necessidades das diferentes áreas produtoras de mirtilo.
Acredito que, no domínio da colheita e pós-colheita, obviamente dada a sua grande proximidade com o mercado de destino, não há necessidade de trabalhar aspectos de gestão da colheita, logística e transporte. No entanto, estas são questões que terão de ser desenvolvidas com a procura de novos mercados, onde por enquanto envolve volumes muito menores.
Para a área que visitamos nestes dois dias, observam-se problemas de infraestrutura básica que devem ser desenvolvidos caso as condições comerciais variem no futuro.
- Que perspectivas futuras podem ser vislumbradas para a indústria em Marrocos?
- Como referi, Marrocos é sem dúvida um país privilegiado pela sua localização face ao seu mercado de destino, mas acredito que se encontra no momento de dar um passo importante para levar a cabo desenvolvimentos locais que respondam aos desafios da gestão do clima e da água, por exemplo. Tudo indica que problemas como períodos de altas temperaturas ou outros eventos climáticos serão mais frequentes e os produtores deverão estar preparados para enfrentá-los.
No domínio do manuseamento pós-colheita da fruta, e dada a experiência de outros países fornecedores, é clara a necessidade de desenvolver novos mercados, e não apenas por via aérea. Isso exigirá a transferência de conhecimentos já disponíveis para poder chegar com frutas de qualidade, além de falar apenas em tamanho.
O professor Defilippi deu a palestra: “Desafios e oportunidades para reduzir perdas e melhorar a qualidade dos frutos”, além de participar ativamente da Mesa Redonda onde foram discutidos os desafios do cultivo e identificação de pontos críticos para competir nos mercados.
A presença do Dr. Bruno Defilippi no XXVIII Seminário Internacional de Mirtilo em Agadir, significou uma grande oportunidade de interagir com um grande especialista, que sempre se destaca pela generosidade em compartilhar seu amplo conhecimento com os interessados nos múltiplos aspectos do cultivo.